A perda de significado das palavras

Antigamente, ou há apenas alguns anos, creio eu , as palavras tinham um pouco mais se significado. É como disse Renato Russo: “sei que às vezes uso/palavras repetidas/mas quais são as palavras/que nunca são ditas?”. Realmente, ainda mais para quem faz jornalismo, é indispensável ter um dicionário de sinônimos ao lado. Palavras são usadas todo o tempo, eu sei. Mas algumas expressões e palavras estão tão desgastadas que não têm mais a credibilidade de outrora.

Amor? Tem certeza?

Amor/amar/Eu te amo – as palavras preferidas de onze em cada dez poetas. De Shakespeare à novelas mexicanas, amor/amar e suas conjugações perderam o sentido. No Orkut, MSN, Twitter, conversas de bar ou ônibus, miguxas (os) gritam aos quatro cantos “eu te amo, amiga”. O “eu te amo” não é mais aquela frase que esperávamos ouvir do (a) homem (mulher) de nossas vidas, prestes a colocar uma aliança no dedo. Hoje, as pessoas amam de tudo: de canetas Bic à chocolates caramelizados, de amigos recém-conhecidos a colegas de escola ou faculdade. Amor/amar (ainda) são palavras fortes, cruciais em certos momentos da existência, e que não merecem ser tratadas com tanta falta de respeito.

Urgente – esse é um caso grave, que entrou em coma devido à invenção das etiquetas com a inscrição “urgente”, em letras MAIÚSCULAS, em fundo vermelho, da Pimaco. Usa-se urgente para tudo, menos para o que de fato tem que ser resolvido com prioridade. Ligações telefônicas, reservas de hotéis, passagens, documentos… Tudo urgente. Reflexos de uma sociedade que não pode esperar, que não pode ficar em filas e sempre arruma uma maneira de cortá-las, que reclama se aparece a baleia no Twitter. Resumindo, estamos cada vez mais ansiosos, tentamos abraçar o mundo e resolvemos cada vez menos coisas, deixando as ‘metades’ pelo caminho.

Para todos os gostos e bolsos – clássico jornalístico, presente em jornais, revistas, guias e sites que falem sobre dicas de restaurantes, viagens. Restaurantes para todos os gostos e bolsos. Hotéis para todos os gostos e bolsos.

Vamos marcar de sair – clássica dos ex-colegas de classe, de faculdade, escola ou trabalho. Sempre que se encontram, seja pessoalmente ou na internet, querem ‘marcar de sair com a galera’, em um dia que nunca chega (experiência própria).

Amigo(a) – “Amigo é coisa pra se guardar/debaixo de sete chaves/dentro do coração…”, disse o poeta. Mas o que se vê hoje é bem diferente. Depois do surgimento das miguxas e do dialeto miguxês, todo mundo vira amigo. Acabou de conhecer = amigo, estudou na Wizard uma vez por semana = amigo. Difícil é saber quem é amigo de verdade…

1 Responses to A perda de significado das palavras

  1. Mariana Guedes disse:

    Eita bichinha inteligente …

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